Hábitos que nos habitam

?? Josué é do tipo que olha para o papel higiênico depois de passá-lo na bunda para analisar a textura de suas fezes.

Andresa aperta a descarga antes mesmo de levantar-se do vaso para não ter que ver seus excrementos boiando na água. Ao ficar em pé tem sempre a bunda molhada. Pensou em chamar um encanador para diminuir a pressão da descarga, mas acaba sempre esquecendo.

Mariângela adora a sensação do chuveirinho do bidê. Água morna e jato forte. Já teve um orgasmo fazendo isso. Prefere o bidê ao seu atual namorado.

Carlos desistiu da ioga por causa do cheiro de chulé que toma conta da sala no meio da aula. Achava que poderia ser seu cheiro, mas era algo mais pungente, coletivo.

Leopoldo toma banho de sunga no vestiário do clube depois da natação. Tem vergonha do seu pênis entortado para a esquerda.

Henrique agrada seu cachorro igual a um massoterapeuta. Gosta quando o bichano fica excitado. Só que ao ver aquele membro rosado, enche-se de vergonha e manda o cachorro passear.

Elizete segue tirando tatu do nariz e colocando logo em seguida na boca, como fazia aos quatro anos de idade. No entanto, hoje em dia não tem mais a mãe ao lado para repreendê-la.

André gosta de passar a tesourinha de cortar unhas aberta no cantinho entre as unhas e os dedos dos pés. Principalmente nos dedões, onde forma-se uma mistura indiferenciada de suor, pedacinhos de lã e poeira. Cheira o que consegue tirar dali, faz um ar de nojinho mesmo tendo certo prazer. Joga tudo na lixeira, junto com os pedaços de unha dos outros dedos.

Suélen era casada há dois anos, mas ainda não tinha sido pega peidando debaixo do edredom para, em seguida, mergulhar de cabeça e tudo ali dentro e ficar curtindo o cheiro dos puns.

Patrícia descobriu que não vomitava mais quando sentia cheiro de vômito quando seus filhos pequenos passaram a vomitar com certa frequência em seu colo.

Ricardo faz xixi no chuveiro, durante o banho, só que pega o pênis e fica se molhando com a urina quentinha pelas pernas, barriga, umbigo. Depois passa sabonete em tudo.

Karen nunca empresta seus fones de ouvidos porque morre de nojo da cera amarelada dos outros.

Carolina quer namorar com António, mas tem nojo do gosto da boca dele.

Luciana não usa banheiro de avião. Mas neste voo para Lisboa não teve como segurar. Dentro da cabine diminuta, não toca em nada. Abre a tampa da privada com os pés e quase tem um ataque ao ver os restos de cocô de algum outro passageiro grudados no vaso. Consegue fazer xixi de pé, virada de costas para aquilo tudo, apoiando-se nos joelhos, sem molhar a calcinha. Aperta a descarga também com os pés e assusta-se com o barulho e a força sugadora do vento que toma conta do recinto. Ia gritar quando lembra-se que está em um avião.

Fábio compra há anos a mesma pasta de dentes Colgate vermelha, aquela que dá uma ardidinha na boca quando escova os dentes. Só que sempre que chega na gôndola dos produtos de higiene do supermercado, fica parado, admirando aquelas embalagens multicoloridas. Sabe que deveria ser mais aventureiro, experimentando coisas novas, como diz sua esposa. Olha, analisa, lê os rótulos e acaba colocando na cestinha a Colgate vermelha. Aquela ardidinha é um dos poucos prazeres que tem.

Janaína quase morre de vergonha ao contar para as amigas, numa rodada de Verdade ou Consequência, que para gozar quando transa com o marido, precisa fechar os olhos e imaginar que está na cama com algum dançarino de salsa ou rumba.

Jota está apaixonado por César, mas tem medo de dar o primeiro passo e levar uma surra.

Maria pegou Edson, seu paquera, beijando-a de olhos abertos olhando para o lado.

Annemarie queria muito tomar café no Starbucks, mas tinha vergonha. Não sabia como pedir aquelas misturas com nomes complicados. Naquela tarde, entrou decidida na fila e, quando chegou a sua vez, falou: “quero o mesmo que ela”. Ela sendo a moça que pedira antes dela. E qual o seu nome?, perguntou a atendente. Annemarie, respondeu. Esperou ansiosa pela sua bebida no final do balcão. Quando gritaram Mariana e Ana Maria e colocaram dois copinhos diminutos à sua frente, soube que a moça à sua frente se chamava Mariana e que aquilo ali se chamava maquiato.

Quando estava deprimido, Patrick ia ao Carrefour para passear entre as mercadorias. Gostava principalmente da seção de pães e da de ferramentas.

Ângela morre de vergonha do marido porque ele trata muito mal os garçons.

João Paulo irrita-se quando perguntam seu estado civil ao preencher cadastros e olham para ele com um olhar inquisitivo ao dizer que é solteiro. A partir de hoje vai dizer que é viúvo para ver se mudam o jeito de olhar para ele.

Cristina não tinha feito a lição de casa, por isso escreveu um mini-texto rapidamente. O tema eram artistas mulheres e lembrou-se apenas de uma tal colombiana chamada Frida Calo.

Vicente entra na livraria e dirige-se à mesa dos lançamentos. Pega livro a livro. Apalpa as capas, segura um volume firme em suas mãos. Dá uma folheada e respira fundo o odor de páginas impressas, como se estivesse segurando pedaço de pão recém saído do forno.

Já faz cinco anos que Fernanda tentava ler Ulisses, de Joyce. Começava, atingia a altitude de cruzeiro e, ao chegar à página 52, colapsou, como se um míssil tivesse sido disparado em sua direção. Hoje, sentada na cama de hospital, abre o volume e recomeça.

Luís estava nervoso na fila de imigração. Quando chegou a sua vez, entregou o passaporte ao policial de fronteira que examinou o documento e perguntou, em inglês: “where is your visa?”. Luis, sem saber ao certo a razão da pergunta, respondeu devagar: “sorry, only mastercard”.

Sempre que pediam para Júlio autografar um livro, escrevia a mesma dedicatória: “bom apetite”.

E você? Qual o hábito que te habita?

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