As trilhas que levam o visitante àquela cidadezinha são bastante íngremes. Chega-se até ela em dois dias de caminhada, como se a tivessem escondido no topo das montanhas nevadas. Capivânia consiste em duas ruas que se cruzam formando uma cruz quando vistas de um zepelim. No centro há uma praça com um baobá antiquíssimo e flores coloridas ao redor. A igreja, os correios e a farmácia ficam em frente. O resto dos casebres são pequenos negócios e residências. A escola está fechada por falta de novos alunos. O que chama a atenção do visitante na chegada são as calçadas de ladrilhos dourados por onde passeiam capivaras de vários tamanhos e idades, todas muito ocupadas com os seus afazeres diários. Caminham sobre duas patas e vestem-se à moda dos anos 1960.
O lugar tem uma única pousada, já que acampar é proibido. Reservas são recomendadas. Tranca-se bem as portas ao dormir. Se durante o dia as capivaras comportam-se com primazia, de noite voltam ao estado natural. A senhorita Rita Capivara, por exemplo, dona da confeitaria mais popular da cidadezinha e fluente em inglês, ao sentir cheiro de suor humano em noites de lua cheia, enlouquece. Josué Capivara, mestre sapateiro, montou uma vitrine decorada com sapatos de couro de nádegas. Dizem que o couro vem de alguns visitantes que não seguiram as regras de Capivânia. Durante uma noite, há alguns meses, foram abordados em suas barracas na praça do baobá por uma gangue de jovens capivaras delinquentes.
Ao turista que se ativer às regras, reservando seu quarto com beliche na pousada e não saindo às ruas depois do sol, não há nada a temer. Ao contrário, a cidadezinha é a joia turística daquele país. A desculpa é ver os ladrilhos dourados – que alguns supõem serem barras de ouro, outros dizem ser apenas latão – quando na verdade são as capivaras sociáveis e empreendedoras que todos querem conhecer.
A já mencionada capivara Rita, por exemplo, prepara bolos e tortas. Sua confeitaria, com mesas de madeira cobertas por toalhas quadriculadas, serve o famoso merengue de ovos de pato com calda de buriti. Ela mesma atende os clientes atrás do balcão em seu avental cor de rosa. O sapateiro Josué vende chaveiros de couro de esquilos, uma praga por ali. São souvenires muito populares. Aos domingos a missa é rezada na língua capivara, com bíblias traduzidas e impressas na cidadezinha. O visitante pode comprar um exemplar na livraria da rua principal, que também vende romances e histórias em quadrinhos de autores locais.
Um dia é suficiente para o visitante, que terá gasto dois para a escalada e gastará mais dois para a descida de volta ao vale, de onde se toma o trem de retorno para a capital do país, onde é possível dormir em barracas.