For English, please scroll down to the British flag and Italic text. Thanks!
🇧🇷Vento. Odeio vento. Portas batem, janelas chacoalham, a atmosfera fica bagunçada e não durmo bem. Entre travesseiros e zunidos, o celular tocou e me tirou do estado entre sono e sonho, sabe qual? Me dei conta de que telefonema de madrugada não traz notícia boa e o estômago deu uma reviravolta. Fui até a sala (celular fica longe da cama contra efeitos nocivos dos raios beta-gama-xis) e atendi o número estranho. Poderia ser uma vendedora de planos de saúde ou de ajuda para os pobres. Poderia ser um trote, um preso fingindo ter sequestrado o filho que não tenho. Faz um PIX que a gente solta o garoto. Mal pude dizer alô e uma voz masculina, bonita, me perguntou algo em mandarim.
Tentei explicar que não falava mandarim. Fiz algumas aulas online, mas isso foi há anos. Ele insistia. Eu notava que me perguntava algo e eu repetia que não falava a língua dele, quem sabe inglês? Como se diz mesmo espanhol em mandarim? Xibanyayu? Foi então que percebi o absurdo da cena. Eu, de madrugada, pelado no meio da sala escura, uma ventania lá fora, tentando me fazer entender com as cinco palavras chinesas de que me lembrava. Me despedi educadamente, zai tien. Voltei pra cama e apaguei.
No meio da tarde me veio o tal sonho em mente. Alguém, numa conversa, falou que sonhava em inglês. Pois eu, veja só, sonhei em mandarim. Resolvi olhar as minhas chamadas telefônicas e vi que foi verdade. Tem uma ligação atendida às 4 horas da madrugada de um número de Cingapura. Estaria sendo espionado? Será que teria que dizer de que lado da nova Guerra Fria estou? Poderia ser efeito colateral da Coronavac, sonhar em mandarim? Tá aí uma coisa que poderia ter vindo no tal microchip que implantaram na gente junto com a vacina: a capacidade de falar com os chineses. Aposto que o Bill Gates não pensou nisso.
A confusão mental pode ser resultado dos últimos dias de trabalho. Estou de "emprego" novo, by the way. Ou melhor, trabalho de roupa nova. Minha função é ler muitos livros por semana e dar uma opinião. São tantas histórias misturadas que têm produzido sonhos estranhos e uma certa maleabilidade entre o real e o ilusório. Sofro com os personagens, confundo um livro com outro, mas no fim, as leituras servem para a curadoria de um clube de assinatura de livros que será lançado em fevereiro de 2022 chamado de Amora Livros.
Junto com minhas sócias da Pulp, Fernanda e Patricia, mais o talento portenho de Maria Ignácia, a Mai, criamos a Amora Livros. O objetivo é dominar o mundo, mas vamos começar com um clube de livros escritos por mulheres aqui no Brasil e, em seguida, na Argentina. A cada mês enviaremos uma caixa com um livro, um mimo e um conto. O conto é de autoria de colegas de cursos de escrita* que queiram ser publicadas pela primeira vez. Ou de amigas escrevinhadoras. Estou bem animado, principalmente por ter que ler cerca de dois a três livros por semana. Já temos perfis no Instagram (@amoralivros_brasil) e no Facebook (@amoralivrosbrasil) que esperam o teus valiosos likes. Assinaturas, só a partir do começo do ano que vem. Ainda temos um Natal, um Reveillon e uma Ômicron pela frente.
Se tiver tempo antes do déluge dezembrino, assista ao “O Caso Collini”, no Netflix. No cinema, recomendo “A Crônica Francesa”, do Wes Anderson. Vi também a “Casa Gucci” e adorei a Lady Gaga e o vizu anos 1980. Das minhas leituras não-amora, recomendo “O Fim de Eddy”, de Édouard Louis (triste, triste, triste) e “Anos de Chumbo e outros contos” do Chico Buarque. Já as leituras amora guardo em segredo para as caixinhas do ano que vem. Feliz Natal e uma ótima travessia de ano. Nos vemos do outro lado, em 2022. 😉
* Se você quiser enviar um conto inédito para publicar no Amora Livros, de até 2.500 caracteres, mande para avaliarmos no vicente@pulpedicoes.com.br
🇬🇧Wind. I hate wind. Doors slam shut, windows shake, the atmosphere becomes messy and I can’t sleep well. Between pillows and wind rush, the cell phone buzzed and brought me out of that comatose state that is neither sleep nor wakefulness, you know? I realized a ringing phone in the middle of the night is no good news. My stomach turned upside down. I walked into the living room (mobile stays away from the bed against alpha-beta-gamma rays) and picked up the strange number. It could well be a life-insurance salesman or Salvation Army’s donation push. Maybe a prank call with someone claiming to have kidnapped my non-existing son and demanding a ransom. Make a bitcoin transfer now or we kill him. I had hardly said hello and a male voice, quite beautiful, asked me something in Mandarin.
I tried to explain that I didn't speak Mandarin. I had some online classes, but that was long ago. He insisted. I noted he was asking me something. I kept repeating I did not speak his language, maybe he spoke English? How to say Spanish in Mandarin? Xibanyayu? I suddenly realized how weird the scene was. Me, naked, in the middle of a very windy night, up in the dark living room trying to make myself understood in Mandarin, using the only five words I could remember. I politely said goodbye, zai tien, went back to bed and collapsed into deep sleep.
Later that day, the dream came back to me. Somebody, in a conversation, said to dream in English. Well, yeah, I dreamt in Mandarin. So I looked up my calls and saw that it actually happened. There was a call at 4 am from a number in Singapore. Am I being spied on? Maybe I have to declare on which side of the new Cold War I am? It could well be a side effect of Sinopharm’s vaccine, dreaming in Mandarin. They could have actually programmed those microchips inserted into our bloodstream to make us speak Mandarin. I bet Bill Gates didn’t think of that!
This mental confusion of mine could be related to work. I have a new job, by the way. Well, a job with a new look, at least. My role is to read many books per week and rate each and every one. There are so many stories mixed up in my brain, no wonder I’ve had weird dreams. The border between fact and fiction in my brain has slowly melted. I suffer with the characters as with friends, I bundle up stories and create new narratives of my own. At the end of the way, it all serves a purpose, which is curating books for a book club subscription service to be launched in February 2022 called Amora Books.
Together with Pulp partners Fernanda and Patricia in Brazil and talented Argentinian Maria Ignácia in Buenos Aires, Amora Livros was born. Our aim is world domination, but we will start with a book club of titles written by women. First in Brazil, later on in Argentina. Each month we will send subscribers a box with a book, a gift and a short story by colleagues from Creative Writing Workshops being published for the first time. I am very excited, especially because I have to read two to three books per week. We already have profiles on Instagram (@amoralivros_brasil) and on Facebook (@amoralivrosbrasil) waiting for your precious likes. Subscriptions start only early next year. We still have Christmas, New Year’s and Omicron ahead of us.
If you have spare time before December’s déluge, watch “The Collini Case” on Netflix. On cinemas, I recommend the visually impressive "French Dispatch", by Wes Anderson and the camp 1980s "House of Gucci" with Lady Gaga, lots of cigarettes and Italian accents. If you prefer reading, try “Both/And” by Huma Abedin, “In the country of others”, by Leïla Slimani or “The End of Eddy”, by Édouard Louis. Happy Holidays and a very happy landing in 2022. See you on the other side. 😉