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🇧🇷 Para uma criança que lia o Almanaque Abril antes de dormir, visitar novos países é melhor do que festa. Ainda não estive em todos os membros da União Europeia. Faltam a Eslovênia e o Chipre. À Irlanda, fui em 1995, ou seja, prazo de validade quase vencido. Certos lugares estão na minha lista há anos. Mongólia, Argélia, Moçambique e Costa Rica, por exemplo. Outros são destinos de oportunidade, do tipo "já que vim até aqui, estico acolá". É o caso de San Marino, um dos menores países do mundo, que fica perto de Bolonha, na Itália. Fundado em 301, tem somente 30 mil habitantes e 61km quadrados, ou seja, é 6,75 vezes menor do que Curitiba. A população inteira caberia nos prédios do Bigorrilho.
Países como Andorra, Mônaco, Liechtenstein, Butão e Djibouti me fascinam. Num mundo de grandes e médias nações, algumas superpoderosas, esses pedaços minúsculos do Atlas conseguem manter-se independentes. São organizações políticas completas, têm assento na ONU, embaixadas, idiomas. Em suma, funcionam. Vindo de um país tão grande como o Brasil, me pergunto se não seria mais produtivo administrar territórios menores. Imagino ser mais fácil encontrar consenso entre os 30 mil sanmarinenses do que com os 210 milhões de brasileiros, ou o bilhão de chineses. Mas do jeito que andam as coisas, nem no Vaticano há consenso. Uns querem ir para um lado, outros para outro. No Irã, no Iraque, na Suécia e na Suíça.
No entanto, o que importa não é a extensão territorial de um país, e sim a forma como é governado. Coisas simples como educação, transparência e democracia acabam sendo exceção na maioria. Sorte conta muito. É o caso da Noruega, que tem petróleo e Q.I. para gerenciar os ganhos. Já a Venezuela tentou, mas errou feio. A Rússia é gigantesca e disfuncional. Na América Latina, enquanto todos olhavam para o Chile como modelo, o Uruguai tem se mostrado mais igualitário. A História conta muito. Ex-colônias geralmente não funcionam tão bem quanto as antigas matrizes. Foram-se os colonizadores, ficaram as multinacionais e as feridas. Fórmulas seriam excelentes nestes casos, mas geografia, economia e política não são física ou matemática. Mas chega de minhas elucubrações à la Piketty.
Mas voltando a San Marino, que visitei na semana passada. O centro histórico fica no topo de um morro, onde mesmo em 2022, só é fácil chegar de ônibus ou teleférico. Imagino os sanmarinenses de 301 guerreando contra os romanos lá de cima. Foi só juntar algumas pedras e bons atiradores de arco e flecha. Achei que fosse ficar a tarde toda por lá, mas uma curta caminhada escadas acima, ladeiras abaixo foi o suficiente. Por ser livre de impostos, San Marino atrai turistas ávidos por perfumes, roupas de marca e quinquilharias. Lembra Ciudad del Este, no Paraguai. Logo na entrada do país tem um outlet. No ônibus que peguei na estação de Rimini, éramos uns 100 turistas. Quase uma invasão bárbara. As ruelas do centro histórico foram tomadas por paus de selfie, carrinhos de bebê e grupos escolares. Se cada um de nós dominasse um habitante local, poderíamos ter ocupado o país em algumas horas.
Nas minhas idas e vindas, sempre acho a Itália e o Brasil muito parecidos. Se olharmos o sistema judiciário, é quase um copia e cola. A política então, melhor nem falar. Trocamos máfia por milícias e pronto, o que acontece aqui na Itália em alguns anos se repete no Brasil. Por isso estou chocado com o podcast que estou escutando sobre a ascensão e queda (e talvez uma nova ascensão) de Silvio Berlusconi. Ele é Trump muito antes de Trump. A combinação Operação Mãos Limpas e a eleição dele para o Congresso foi um prelúdio para o que aconteceu no Brasil com a Lava Jato e Bolsonaro. A fórmula para ganhar (e subverter) funciona!!! O podcast chama-se Bunga Bunga e está disponível em inglês e italiano. Recomendo para quem ainda esteja titubeante com o voto nas eleições brasileiras de outubro.
Chegamos na metade de 2022. Espero que tenha sido bom para você e que a segunda parte seja ainda melhor. Nos vemos por aqui no fim de julho. Enquanto isso, sigo com as minhas explorações italianas.
🇬🇧 For a child who read the National Geographic Almanac before bed, visiting new countries is better than partying. I haven't been to every member of the European Union yet. Slovenia and Cyprus are missing. I went to Ireland in 1995 so memories are almost expired. Certain places have been on my list for years. Mongolia, Algeria, Mozambique and Costa Rica, for example. Others are destinations of opportunity, the kind of "since I've come this far, I'll go there as well". This is the case of San Marino, one of the smallest countries in the world, located near Bologna, Italy. Founded in 301, it has only 30 thousand inhabitants and 61 square kilometers, that is, it is 6.75 times smaller than Curitiba. The entire population would fit in my neighborhood.
Countries like Andorra, Monaco, Liechtenstein, Bhutan and Djibouti fascinate me. In a world of large and medium-sized nations, some of them superpowers, these tiny specks on the map manage to remain independent. They are complete political organizations, they have a seat at the UN, embassies, languages. In short, they function. Coming from a country as large as Brazil, I wonder if it wouldn't be more productive to manage smaller territories. I imagine it is easier to find consensus among the 30,000 people from San Marino than with the 210 million Brazilians, or the billion Chinese. But the way things are going, even in the Vatican there is no consensus. Some want to go one way, others another. In Iran, Iraq, Sweden and Switzerland.
However, what matters is not the territorial extension of a country, but the way it is governed. Simple things like education, transparency and democracy turn out to be the exception for most. Luck counts a lot. This is the case of Norway, which has oil and I.Q. to manage its earnings. Venezuela, on the other hand, tried, but failed badly. Russia is gigantic and dysfunctional. In Latin America, while everyone looked to Chile as a model, Uruguay has shown itself to be more egalitarian. History counts a lot. Former colonies usually don't function as well as the ex-dominating powers. Gone are the colonizers, however the multinationals and the wounds remained. Formulas would be fine in these cases, but geography, economics and politics are not physics or mathematics. But enough of my Piketty musings.
But back to San Marino, which I visited last week. The historic center is on top of a hill, where even in 2022, it is hard to reach even by bus or cable car. I imagine the Sanmarinese of 301 fighting the Romans from above. It was just a matter of gathering some rocks and good archery shooters. I thought I was going to be there all afternoon, but a short walk up the stairs and down the slopes was enough. Being tax-free, San Marino attracts tourists eager for perfumes, designer clothes and trinkets. It reminded me of Ciudad del Este, in Paraguay. Right at the entrance to the country there is an Outlet Mall. On the bus I took from Rimini station, there were about 100 tourists. Almost a barbaric invasion. The narrow alleys of the historic center were taken over by selfie sticks, baby strollers and school groups. If each one of us dominated a local, we could have occupied the country in a few hours.
In my comings and goings, I always find Italy and Brazil very similar. If we look at the justice system, it's almost copy-paste. Better not touch politics. If we exchanged mafia for militias, that's it. What happens here in Italy will happen in Brazil in a few years. That's why I'm shocked by the podcast I'm listening to about the rise and fall (and maybe a new rise) of Silvio Berlusconi. He is Trump long before Trump. The combination of the Clean Hands Operation and his election to Congress was a prelude to what happened in Brazil with Lava Jato and Bolsonaro. The formula to win (and subvert) works perfectly!!! The podcast is called Bunga Bunga and is available in English and Italian. I recommend it to anyone who is still hesitant about the vote in the Brazilian elections next October.
We've reached the half of 2022 already. I hope it was good for you and wish the second part to be even better. See you here at the end of July. In the meantime, I keep with my Italian explorations.