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🇧🇷Contava para um amigo sobre o clima de Curitiba e a palavra que tinha em mente não vinha à tona. Articulei várias outras, mas aquela que descrevia com exatidão desapareceu. Foi só no dia seguinte, quando escovava os dentes, que histérico chegou. Enviei via WhatsApp para o amigo que já não devia mais estar interessado nos altos e baixos das temperaturas da Cidade Sorriso (hoje acho que a palavra mais apropriada seria lunático).
Numa outra conversa durante um jantar, o tema "ilhas gregas" desembarcou na mesa e eu queria falar de Santorini, mas o nome Santorini desapareceu bem na hora em que abri a boca. Descrevi a caldeira, as casinhas brancas, o pôr do sol famoso até que alguém se deu conta de que eu falava de Santorini. Como é que eu lembrava de tanta coisa da ilha, menos do nome? Isso que era uma ilha pop e não algo do tipo Amorgos, Antíparos ou Spetsopoula.
Ontem fui ao cinema ver Fogo Fátuo, um filme português bem estranho. Vi o trailer dele no sábado passado, antes de outro filme que não consigo lembrar qual é. Sentei por quase três horas numa sala de cinema. Lembro que saí perturbado com a história. Só não consigo lembrar o nome do filme nem sobre o que se tratava. Isso em menos de 48 horas. Foi só quando achei o tíquete de entrada na carteira que tudo voltou, que dei um refresh na mente.
Meu sistema de busca está cheio destes blackouts. Achava que poderia ser a idade ou o efeito cumulativo de garrafas de vinho, lança-perfume da adolescência, poppers da juventude, sei lá. Deve ser overload de mensagens, de scrolling, de notícias, de podcasts, de viagens e de livros. Passa muita coisa pelos meus olhos e não consigo guardar tudo. Sou um Motorola, um Blackberry, numa era de iPhone 14 e terabytes na nuvem. Tenho apenas um pouco mais de capacidade de processar informação e armazená-la do que meu tataravô, que não tinha Instagram, não fazia PIX, não via Netflix nem resgatava passagem com milhas Livello no site da Latam.
Cheguei no meu limite. Não existe ginseng, gingko biloba ou sudoku para guardar na gaveta correta, e depois achar, a enxurrada informação que me aflige diariamente. O que é importante anoto numa agenda física. Se esquecer onde coloquei a agenda, baubau. Por isso estou memorizando diariamente os números dos 5 candidatos que escolhi para as Eleições do dia 2 de outubro, já que me falaram que não dá para levar cola para dentro da urna. Ou será que inventei isso?
Esse é outro fenômeno interessante que vem acontecendo. Tudo o que eu esqueço, preencho com histórias inventadas nas quais acredito piamente que aconteceram. Mas deixo o assunto para a newsletter do mês que vem. Se não mandar esse texto agora, vou esquecê-lo em alguma pasta do computador. Nos falamos em outubro. Prometo não esquecer. ;-)
Coisas rápidas de que me lembro
• Li Maria Altamira, de Maria José Silveira e gostei muito. Denso porém.
• Junto com a Fernanda, da Amora Livros, compilamos uma lista de 40 autoras brasileiras contemporâneas.
• Estou no meio de UnCoupled no Netflix compartilhando as agruras do personagem principal. Só preciso de uma dick-pic à altura, quem sabe…
• Fui à Escócia 10 dias antes da morte da rainha. Foi por pouco que não nos vimos em Balmoral. Eu e minha mania de chegar adiantado aos eventos!
• Comi no Juveniles em Paris, uma adega-bistrô micro perto do Palais Royal.
• Gostei deste texto O Brasil em metamorfose de Aline Valek sobre o Brasil e a hora da escolha.
• Vi um episódio d’Os Anéis do Poder na Amazon Prime, mas achei muito complicado.
• Um passarinho me contou que vai ter duas novas temporadas de Emily in Paris. Fútil, mas divertido.
🇬🇧I was telling a friend about the climate in Curitiba and the word I had in mind didn't come up. I tried several others, but the one I had in mind had slipped away. It was not until the following day, while I was brushing my teeth, that “hysterical” finally showed up. I sent it via WhatsApp to my friend who no longer had any interest in the ups and downs of the temperatures in Smiley City (as Curitiba is also known – guess it is sarcastic humor). A better word for this came up today as “lunatic".
In another conversation during dinner, the topic of Greek islands landed on the table. I wanted to talk about Santorini, but the name “Santorini” disappeared just as I opened my mouth. I described the caldera, the white villages, the famous sunset, until someone realized I meant Santorini. How come I remember so much about the island, except its name? And such a common island, not Amorgos, Antiparos or Spetsopoula.
Yesterday I went to the cinema to watch a very strange Portuguese movie. I had seen the trailer on Saturday, before another movie that I can't remember at all. I sat for almost three hours in a movie theater and I remember coming out of it so moved by the story. I just can't remember the name of the movie or what the story was about. This in less than 48 hours. It was only when I found the ticket in my wallet that everything came back, that I refreshed my mind.
My search engine is full of these blackouts. I thought it could be age or the cumulative effect of red wine, poppers, whatever. Truth is, there is communication overload of messages, scrolling, news, podcasts, travel and books. There's a lot going through my head and I can't keep it up. I'm a Motorola, a Blackberry, in an era of iPhone 14 and terabytes in the cloud. I have just a little more ability to process information and store it than my great-great-grandfather did, somebody who didn't have Instagram, didn't do automated bank transfers, didn't watch Netflix or book award tickets for Latam Airlines.
I've reached my limit. There is no ginseng, ginkgo biloba or sudoku to keep stuff in the correct drawers, and to retrieve quickly. What is important I write down in a physical diary. If I forget where I put it, adieu. That's why I am memorizing the many numbers of the 5 candidates I will have to choose in the Brazilian General Elections next October 2nd. In Brazil we vote electronically, like in an ATM machine. Instead of money, we get politicians. They, in turn, get out money though.
Another interesting phenomenon is that I invent memories to fill all the voids. Suddenly they become real memories, as if stuff had actually happened. My own brain is creating deep fakes. But I leave the subject for next month's newsletter. If I don't send this one right now, I'll misplace it in some computer file. Let’s meet here again in October. I promise to remember! ;-)
Quick things I still remember
• I’ve read Les Choses Humaines by Karine Tuil and loved it! It was turned into a movie.
• I ate at Juveniles in Paris, a small wine shop cum bistro near the Palais Royal and highly recommend it.
• I’ve been watching UnCoupled on Netflix and share the main character’s ills. All I need is a good dick-pic, I guess.
• I was in Scotland 10 days prior to the Queen’s death. We almost met in Balmoral. Shame I always get to events in advance.
• I watched the first episode of Rings of Power on AmazonPrime, but found it very complicated.
• Somebody told me there will be two new seasons of Emily in Paris. Frivolous but fun.