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🇧🇷 As retrospectivas do ano que passou, com manchetes e fotos, me deixam sempre nostálgico a ponto de entrar em depressão. Nunca gostei. Quando era pequeno, todos os artistas da Globo se juntavam naquela música “hoje é um novo dia, de um novo tempo que começou” e eu segurava o choro. Criei uma reticência tamanha ao réveillon que passei inúmeros trabalhando, voando ou em trânsito. Essa história de brindar de cueca amarela, de fazer o balanço de algo que acaba e de pensar resoluções novas, geralmente às pressas, não são para mim.
Há um ano, pensei que em 2022 escreveria muito. Comprei uma estatueta da deusa hindu Sarasvati. Ela é a musa das Artes, da Criatividade e da Sabedoria. Ela seguramente me traria muita inspiração. Só que coloquei-a no bolso da mochila, onde carrego canivete, earpods, álcool gel, caneta, guardanapos e camisinhas. A fúria dela foi tamanha, que as únicas coisas que escrevi foram as 11 newsletters. Quando me dei conta, o ano já estava quase acabando. Agora ela está ao lado do Buda no meu altar e espero que ao longo de 2023 o efeito musa da estátua recaia sobre mim. Cada vez que olho para ela, digo ommmmmmm.
Se não foi um ano de escrever, certamente foi um de ler. Li 97 livros em 365 dias. Como bom curador da Amora Livros, 66% deles foram escritos por mulheres contemporâneas. Doze deles foram enviados às assinantes do clube. Os outros eram ou muito longos, ou muito controversos, ou muito caros, ou simplesmente não traduzidos no Brasil. Me sinto quase um crítico literário do New York Times, lendo a trabalho. Inclusive comecei hoje um novo de uma autora nigeriana – terá lançamento global em 2023 – distribuído no momento apenas para insiders do universo editorial. Lacrei!
O que me consola neste último dia de 2023 é saber que o ano só acaba para uma parte do planeta. Achamos que todo mundo é como a gente, mas na China e em outros países asiáticos, o novo ano só começa em 22 de janeiro. Será o ano do coelho. Para os hindus o ano de 2080 começa em abril, para os muçulmanos, 1445 começa em 18 de julho. O mundo é muito mais variado e complexo do que imaginamos. Se a história tivesse sido diferente, talvez no Brasil comemoraríamos um réveillon tupi com a chegada da primavera, em setembro.
Pensando na imensidão do mundo, recomendo um livro maravilhoso, do jornalista científico Ed Young, ganhador do prêmio Pulitzer. Chama-se An Immense World. Acredito que em 2023 seja traduzido no Brasil, pois foi escolhido por inúmeros jornais e revistas como um dos melhores de 2022. Ele conta como os animais enxergam, sentem, escutam e usam ferramentas sofisticadas que nós, humanos, nem sonhamos. Baleias mapeiam os oceanos com ondas sonoras, pássaros enxergam o campo gravitacional da Terra, grilos percebem as vibrações de nossos passos. O mundo é realmente fascinante, tanto olhando para as profundezas do oceano, quanto para o espaço sideral. As imagens que o telescópio espacial James Webb nos enviou em 2022 são prova de que fazemos parte de algo extremamente sofisticado, enorme e belo. Somos poeira cósmica.
Feliz 2023 e muito obrigado por me ler.
🇬🇧 Reflecting on the past year, with headlines and pictures, makes me nostalgic to the point of depression. I never liked it. When I was little, all the main Brazilian artists sang on tv a dramatic end-of-year song that almost made me cry. I developed such a reticence for New Year's Eve that I spent many working, flying or in transit. This story of toasting in yellow underwear (a Brazilian tradition), taking stock of the months that passed and forging new resolutions is not for me.
A year ago, I thought that in 2022 I would write a lot. I bought a statue of the Hindu goddess Sarasvati. She is the muse of the Arts, Creativity and Wisdom. She would surely bring me a lot of inspiration. I shoved it into my backpack, where I carry a pocket knife, airpods, disinfectant, pen, napkins and condoms. Her fury was such that the only things I wrote were the 11 newsletters. When I realized it, the year was almost over. Now she sits next to the Buddha on my altar and I hope that throughout 2023 the muse effect of the statue will befall me. Every time I look at her I say ommmmmmmm.
If it wasn't a year of writing, it was certainly one of reading. I read 97 books in 365 days. As a good curator at Amora Livros, 66% of them were written by contemporary women. Twelve of them were sent to the club's subscribers. The others were either too long, too controversial, too expensive, or simply not translated in Brazil. I feel almost like a New York Times literary critic, reading for work. I even started a new one today by a Nigerian author – to be released globally in 2023 – currently distributed only to insiders in the publishing universe. I feel so highbrow!
What comforts me on this last day of 2023 is knowing that the year only ends for part of the planet. We think everyone is like us, but in China and other Asian countries, the new year doesn't start until January 22nd. It will be the year of the rabbit. For Hindus, the year 2080 begins in April, for Muslims, 1445 begins only on July 18th. The world is much more varied and complex than we imagine. If history had been different, perhaps in Brazil we would celebrate a Tupi New Year's Eve with the arrival of Spring, in September.
Thinking about the immensity of the planet, I recommend a wonderful book by science journalist Ed Young, winner of the Pulitzer Prize. It's called “An Immense World”. It tells how animals see, feel, hear and use sophisticated tools that we humans cannot even dream of. Whales map the oceans with sound waves, birds see the Earth's gravitational field and crickets perceive the vibrations of our steps. The world is truly fascinating, both looking into the depths of the ocean and toward outer space. The images James Webb Space Telescope sent us in 2022 are proof that we are part of something extremely sophisticated, huge and beautiful. We are cosmic dust.
Happy 2023 and thank you so much for reading me.
Feliz 2023 Vicente!! Que seja cheio de boas aventuras literárias e de jornadas para novos lugares ( ou antigos também).
Abração