🇧🇷Já cantava Enya nos anos 1990 sobre o famoso mar azul do Caribe. Apesar da música falar mais de ventos exóticos e da abóboda celeste, ver o ridículo azul das praias do Caribe me lembra do refrão enyano. São vários azuis que pintam as praias. Mas mais variado do que os tons de azul, são as ilhas em si. Eu era virgem de Caribe. Tinha dado um selinho em Aruba aos 15 anos e, aos 35, visitei Fidel em Havana. Caribe na veia, nunca. Até que surgiu essa viagem maluca, de pular por seis ilhas em 20 dias. Eu que adoro um carimbo no passaporte enchi minha boia de unicórnio e através de meus olhos observadores, conto um pouco como foi.
🇬🇧Enya already sang in the 1990s about the famous Caribbean blue. Although the song talks more about exotic winds and the sky above, seeing the ridiculously blue of the Caribbean beaches reminds me of the Enyan refrain. There are several blues that paint the beaches. But more varied than the shades of blue are the islands themselves. I had kissed Aruba when I was 15 and, when I was 35, I visited Fidel in Havana. Therefore I was almost a Caribbean virgin until this crazy trip came along, jumping across six islands in 20 days. Through my observant eyes, I tell you a little about how it went.
SABA
Território holandês. Tem a forma de um vulcão e a menor pista de pouso do mundo. Com vegetação luxuriante e uma atmosfera meio boho, meio agrofloresta, foi onde fiz uma trilha incrível e, ao chegar ao ponto mais alto do reino das Netherlands, o vento quase me levou embora. O bicho mais comum na ilha são as galinhas. Fiquei em Windwaardside e caminhei até a minicapital The Bottom. Voltei de carona pois as ribanceiras estão mais para Lisboa do que Amsterdã. Adorei e quero voltar. Fica a 15 minutos de voo de St Martin (SXM).
Dutch territory. It is shaped like a volcano and has the smallest airstrip in the world. With lush vegetation and an atmosphere half boho, half agroforestry, it was where I did an incredible trail and upon reaching the highest point in the kingdom of the Netherlands, the wind almost blew me away. The most common animal on the island is the chicken. I stayed at Windwaardside and walked to The Bottom, the minicapital. I hitchhiked back because the cliffs are more like Lisbon than Amsterdam. I loved it and want to go back. It is a 15-minute flight from St Martin (SXM).
SAINT BARTHÉLEMY
St Barths é a central caribenha do glamour, versão regional de St Tropez. Parece um parque de diversões com avionetas pousando a todo minuto no microaeroporto, hotéis lindíssimos, restaurantes deliciosos, gente bonita (e muita gente embalsamada também) e tudo caro pra cacete. Já foi sueca, por isso a capital chama-se Gustavia (em homenagem ao rei Gustav) e parece um éclair. Apesar de ventar bastante e o mar estar infestado de algas sargaço, deu pra curtir o azul, o glamour e até mesmo ver o lado mais selvagem da ilha. Fica a 10 minutos de voo de SXM.
St Barths is the Caribbean glam hub, the regional version of St Tropez. It looks like an amusement park with small planes landing every minute at the micro airport, luxury hotels, delicious restaurants, beautiful people (and a lot of embalmed people too) and everything is expensive as hell. It was once Swedish, so the capital is called Gustavia (in honor of King Gustav) and it looks like an éclair. Despite the windy weather and the sea being infested with seaweed, it was possible to enjoy the blue, the glamor and even see the wilder side of the island. It is a 10-minute flight from SXM.
MARTINIQUE
Fiquei apenas em Fort-de-France. A ilha é território da França, tem voos domésticos para Paris de hora em hora. Tinha reservado um carro, mas o voo chegou atrasado e as locadoras já estavam fechadas. Foi bom para eu andar de transporte público (ônibus e barcos) e ver a diversidade local. Mesmo bem simplezinha arquitetonicamente, Fort-de-France tem um je ne sais quoi. Pena que estive ali bem no feriado da Páscoa, onde tudo fecha e todo mundo se debanda para o interior ou para as praias mais distantes. No porto, tinha um navio alemão, o que deixou tudo ainda mais estranho, já que ao invés de Cholë e Pierre, eu só escutava Fridas, Hanzes e Wagners. Visitei o Jardim de Balata e adorei. Fica a 40 minutos de voo de SXM, com uma parada em Guadalupe.
I was only in Fort-de-France. The island is part of France, with domestic flights to Paris every hour. I had reserved a car, but the flight arrived late and the rental offices were already closed. It was good to use public transport (buses and boats) and see the local diversity. As architecturally simple as it is, Fort-de-France has a je ne sais quoi. Too bad I was there during the Easter holiday, when everything closes and everyone flees to the interior or to the most distant beaches. There was a German ship at the harbor, which made everything even more strange, since instead of Cholë and Pierre, I only listened to Fridas, Hanzes and Wagners. I visited the Balata Garden and loved it. It's a 40-minute SXM flight, with a stop in Guadeloupe.
BARBADOS
Outra vez um voo que chegou bem atrasado e fiquei sem carro. Fica a dica: os voos regionais Caribe adentro são feitos com avionetas que pousam em várias ilhas, com mil escalas ao longo do dia. Começam o dia no horário e os atrasos vão se acumulando. Eu que peguei voos de fim de dia, fiquei horas esperando. O interessante de Barbados é que acabou de se tornar república, cortando os laços com o Reino Unido. Mas nota-se que anos de exploração deixaram a ilha bem seca, sem muitos recursos fora o turismo. Tem o azul mais azul dos azuis. Aluguei um Airbnb a uns 10 minutos do mar, em Rockley Beach, por isso andei bastante. Tem restaurantes legais e um clima de praia menos turística. Quando passei perto de Bridgetown e vi o povo bailando bêbado no sol a pino com um DJ gritando, quase tropecei nas minhas Birkenstocks de tão rápido que saí correndo. Foram 30 minutos de voo de Fort-de-France com uma escala em Saint Lucia.
Once again the flight arrived very late and I was left without a car. Here's a tip: regional flights around the Caribbean use planes that land on several islands, with a thousand stopovers throughout the day. They start the day on time and delays pile up. I took flights at the end of the day, so I spent hours waiting. The interesting thing about Barbados is that it has just become a republic, cutting ties with the UK. But you can see that years of exploitation have left the island very bare, without many resources other than tourism. It has the bluest of blues. I rented an Airbnb about 10 minutes from the sea, in Rockley Beach, so I walked a lot. It has cool restaurants and a less touristy beach atmosphere. When I passed near Bridgetown and saw people dancing drunk in the midday sun with a DJ screaming, I almost tripped over my Birkenstocks as I ran away. It was a 30-minute flight from Fort-de-France with a stopover in Saint Lucia.
TRINIDAD & TOBAGO
Só visitei Trinidad. Tobago ficou para a próxima. Adorei a ilha, pois me pareceu mais exótica e com uma identidade própria. Barbados ainda tem muita coisa de Inglaterra, já Trinidad & Tobago, que é independente desde 1962, desenvolveu uma personalidade única. Port of Spain não é muito bonita, mas tudo fica perto dali, já que não é muito grande. Consegui o carro alugado já que o voo de 35 minutos de Barbados chegou no horário, às 5h45 da manhã. Contudo, a mão é inglesa e nos primeiros 40 minutos na estrada consegui raspar todo o lado esquerdo do veículo no parachoque de uma van lotada. Ainda bem que a praia de Maracas era linda e a estrada de tirar o fôlego, de bela e também de estressante (curvas e mais curvas em pista apertada e motoristas enlouquecidos). Fui ao melhor restaurante indiano da vida, o Meena House. Falando nisso, metade da população de Trinidad é de origem indiana. Passei os três finais de tarde vendo as pessoas jogando críquete e futebol no gigantesco Queen’s Savannah, um parque do tamanho da lagoa Rodrigo de Freitas no meio da cidade.
I only visited Trinidad. Tobago, next time. I loved the island because it seemed more exotic and with its own identity. Barbados still has a lot of England in it, while Trinidad & Tobago, which has been independent since 1962, has developed a unique personality. Port of Spain isn't very pretty, but everything is close by as it's not very big. I got the rental car becuase the 35 minute flight from Barbados arrived on time at 5:45 am. However, they drive on the left and in the first 40 minutes on the road I managed to scrape the entire left side of the vehicle on the bumper of a crowded van. Thankfully, Maracas beach was beautiful and the road was breathtaking, beautiful and also stressful (curves and more curves on a tight track and crazy drivers). I went to the best Indian restaurant in my life, Meena House. By the way, half of Trinidad's population is of Indian descent. I spent the three afternoons watching people play cricket and football in the gigantic Queen’s Savannah, a park the size of a farm in the middle of the city.
SINT MAARTEN/SAINT MARTIN
A ilha é compartilhada entre a França e a Holanda. Foi devastada em 2017 pelo furacão Irma e logo em seguida pelo tufão José. Ainda dá para notar a destruição. O aeroporto Rainha Juliana é o maior da região e por isso as viagens tendem a começar ali. Entrei três vezes em SXM ao longo da viagem e lotei o passaporte de carimbos iguais. Visitei Philipsburg, a capital do lado holandês na primeira vez. Todas as lojas de relógios e bolsas estavam vazias já que nenhum navio estava ancorado ali no dia. Voltei para ir de St Barths para a Martinica e descobri que dá para dar a volta na ilha com as vans por 8 dólares. Terminei a viagem em Marigot, no lado francês, um vilarejo meio feinho, mas com boulangerie, pâtisserie, frommagerie, cave à vin, Monoprix, librairire e as ruínas do Fort Saint Louis. Gostei, mas não fiquei com vontade de voltar.
The island is shared between France and the Netherlands. It was devastated in 2017 by Hurricane Irma and shortly thereafter by Typhoon José. You can still see the destruction. Queen Juliana Airport is the largest in the region and therefore trips tend to start there. I entered SXM three times during the trip and filled my passport with the same stamps. I visited Philipsburg, the capital of the Dutch side for the first time. All the watch and handbag stores were empty as no ships were anchored there that day. I went back to go from St Barths to Martinique and found out that you can drive around the island with the local vans for 8 dollars. I ended the trip in Marigot, on the French side, a rather ugly village, but with a boulangerie, a pâtisserie, a frommagerie, a cave à vin, a Monoprix, a librairire and the ruins of Fort Saint Louis. I liked it, but no need to go back.
VISÃO GERAL | GENERAL OUTLOOK
🇧🇷Estranho notar o quanto a Europa ainda mantém os privilégios por aqui. Ver a bandeira francesa, ou inglesa, ou holandesa flutuando ao vento mostra o quão dominantes ainda são. Também foram eles que trouxeram os escravizados africanos e depois os trabalhadores indianos para cá para que cultivassem açúcar, algodão, café e cacau na época em que esses itens valiam ouro. Contudo, na Martinica, em Barbados e em Trinidad notei uma população orgulhosa de suas origens. Foi bom vivenciar países onde todas as funções sociais e todas as classes sociais não são brancas. Não pensava encontrar lugares assim fora da África. Onde há mais mistura de negros e brancos a coisa complica, como é o caso de Saba, St Barths e St Martin. As dinâmicas passam a ser as mesmas que temos no Brasil, na França, nos EUA, infelizmente.
Há muita transferência de recursos das metrópoles para cá. A infraestrutura na Martinica, por exemplo, é muito parecida com a do sul da França. Quase toda a reconstrução de St Martin é feita com recursos da União Europeia. Barbados já depende mais de turismo. Trinidad teve a sorte de encontrar petróleo e gás (fica a um pulo da Venezuela). Gostei também de ficar por uns dias em cada lugar e não apenas desembarcar de um navio pela manhã e ir-me à noite. Fui ao mercado, peguei vans, ônibus e barcos. Me perdi. Me achei. Bati o carro, tive que dar um jeito. E por todos os lados as pessoas foram simpáticas, amigáveis e acolhedoras. Desisti de ir para Anguilla, que fica a meia hora de barco de Marigot, mas já era fim de viagem e o azul do lado de lá deve ser igual ao azul do lado de cá, apenas que aqui diz-se bleu e lá, blue. Se estiver planejando visitar essas ilhas, pode me escrever que passo dicas. Senão, até maio!
🇬🇧Strange to note how much Europe still maintains its privileges here. Seeing the French, the English, or the Dutch flag fluttering in the wind shows how dominant they still are. They were also the ones who brought enslaved Africans and then indentured Indian workers to grow sugar, cotton, coffee and cocoa at a time when these items were worth gold. However, in Martinique, Barbados and Trinidad I noticed a population that was proud of its origins. It was good to experience countries where all social functions and all social classes are not white. I didn't think I'd find places like this outside of Africa. Where there is more mixing of blacks and whites, things get complicated, as is the case in Saba, St Barths and St Martin. The dynamics are the same as in Brazil, in France, in the USA, unfortunately.
There is a lot of transfer of resources from the metropolises. The infrastructure in Martinique, for example, is very similar to that in the south of France. Almost all of St Martin's reconstruction is done with EU funds. Barbados depends more on tourism. Trinidad was lucky to find oil and gas (it's a stone's throw from Venezuela). I also enjoyed staying for a few days in each place and not just getting off a ship in the morning and leaving at night. I went to the market, took vans, buses and boats. Got lost. Got lucky. Crashed the car. Fixed it. And everywhere people were nice, friendly and welcoming. I decided not to go to Anguilla, which is half an hour by boat from Marigot, but it was already the end of the trip and the English blue must be the same as the Frech bleu. If you're planning to visit these islands, write to me for tips. Otherwise, see again in May!
Show!!! Adorei!