For English, please scroll down to the British flag and Italic text. Thanks! If you haven't subscribed yet, please do so down here:
🇧🇷Antes de assumir a posição de concierge no Hôtel Petit Palais, já de contrato assinado, fui enviado para Tóquio para aprimorar meu japonês. Há três meses tenho aulas no Centro Cultural Yoyogi, onde aprendi as nuances dessa língua tão complicada e cheia de hierarquias. A gerência do hotel dá extrema importância aos 60% de hóspedes de origem nipônica que visitam Paris atrás de agnès b…, crepes do Breizh, vinhos naturais e o tal je-ne-sais-quoi da cidade.
Aprendi a fazer reverências na medida certa e o básico da língua para que tenham confiança nas minhas recomendações. Os casos agudos de Pari shokogun (パリ症候群) têm aumentado vertiginosamente nos últimos anos. O Hôtel Petit Palais se vangloria por nunca ter tido um hóspede acometido dessa síndrome que turistas asiáticos, principalmente japoneses, desenvolvem ao desiludirem-se com as realidades de Paris.
Após três meses no Japão, sou eu quem está com medo de delirar, ter ataques de pânico e depressão ao enfrentar as greves, barricadas, fezes de cachorro, metrô lotado e clochards em Paris. Mas como escrevem Proust e de Beauvoir, c’est la vie.
Divido um quarto no subúrbio de Adachi com o amigo de um amigo. Javier não é dos mais limpos, mas o preço do aluguel é aceitável, fica a três quadras da linha de metrô Chiyoda e pouco nos vemos. Por recomendação dele, encontrei trabalho num bar em Shinjuku já na primeira semana. Foi onde mais aprendi japonês e japonices até agora.
O Golden Heart tem uma clientela unicamente feminina. Me sento no balcão até ser escolhido para juntar-me a uma das mesas, geralmente com duas ou três amigas que vêm beber e buscar a companhia de gaijins. Algumas dizem que gostam de praticar inglês ou francês, mas acabamos conversando em japonês. Sou um rentoboifurendo, namorado de aluguel. Devo ser simpático, deixar que me toquem, que afaguem minhas mechas e que me paguem bebidas. Não há beijos, nem sexo, nem sacanagem. Tudo muito bonitinho e bem remunerado.
Recebo em dinheiro vivo todos os dias no fim do expediente. Um fixo por aparecer de banho tomado e de roupas limpas, que não é grande coisa, e um variável diretamente proporcional ao valor das comandas das clientes, que aprendi a deixar cada vez mais polpudas. Uma dose de whisky Yamazaki ou dos saquês envelhecidos vale uma semana de trabalho no Hôtel Petit Palais. Tenho certeza de que o bar é da yakuza. Nesses três meses nunca me pediram documentos nem teve batida policial.
Há dias em que recebo convites para encontrar clientes fora do Golden. São bilhetinhos passados dentro de caixinhas em forma de um um coração dourado. Meu chefe não gosta disso. Prefere que tudo fique sob seu controle, que Akikos e Masakos gastem todos os seus ienes extras em coquetéis coloridos e aperitivos duvidosos. Mas, segundo Javier, fora do bar elas só querem caminhar de mãos dadas ou jantar acompanhadas.
Na semana passada me dei conta de que o que ganho como rentoboifurendo é quase o mesmo que me paga o Hôtel Petit Palais. Se topar os encontros fora do bar posso até dobrar meu salário. Vai que alguma senhora rica toma gosto pela minha companhia e me adota como petoboifurendo. Nunca imaginei ser um pet, mas aqui no Japão tudo é tão diferente que estou até considerando. Mas no fundo, é apenas uma nova faceta em minha carreira de Hospitalidade.
🇬🇧Before taking on the concierge position at the Hôtel Petit Palais, with a contract already signed, I was sent to Tokyo to improve my Japanese. I've been taking classes at the Yoyogi Cultural Center for three months now, where I learned the nuances of this language, which is so complicated and full of hierarchies. The hotel's management gives extreme importance to the 60% of Japanese guests who visit Paris looking for agnès b… fashion, crepes from Breizh, natural wines and that city's je-ne-sais-quoi.
I learned how to bow properly and the basics of the language so that they will have confidence in my recommendations. Acute cases of Pari shokogun have skyrocketed in recent years. The Hôtel Petit Palais prides itself on having never had a guest affected by the syndrome that Asian tourists, particularly Japanese, develop when they become disillusioned with the realities of Paris.
After three months in Japan, I am the one who is afraid of delirium, panic attacks and depression when facing strikes, barricades, dog droppings, crowded metro and clochards in Paris. But as Proust and de Beauvoir write, c'est la vie.
I share a room in suburban Adachi with a friend of a friend. Javier isn't the cleanest roommate, but the rental price is acceptable, it's three blocks from the Chiyoda subway line and we don't see much of each other. On his recommendation, I found work at a bar in Shinjuku within the first week. It's where I've learned the most Japanese and Japaneesy stuff until now.
The Golden Heart has an exclusively female clientele. I sit at the counter until I'm chosen to join one of the tables, usually with two or three friends who come to drink and seek the company of gaijins. Some say they like to practice English or French, but we end up talking in Japanese. I'm a rentoboifurendo, rent boyfriend. I should be nice, let them touch me, stroke my locks and buy me drinks. No kissing, no sex, no sluttiness. All very clean and well-paid.
I receive cash every day at the end of the shift. A fixed amount for showing up showered and wearing clean clothes, which is not a big deal, and a variable directly proportional to the value of the customers' orders, which I've learned to make increasingly pulpy. A shot of Yamazaki whiskey or aged sake is worth a week at the Hôtel Petit Palais. I'm sure the bar is owned by the yakuza. In these three months, I was never asked for documents and never saw a police raid.
There are days when I receive invitations to meet clients outside the bar. They are little notes passed inside little boxes in the shape of a golden heart. My boss doesn't like that. He prefers that everything be under his control, that Akikos and Masakos spend all their extra yen on colorful cocktails and dubious appetizers. But, according to Javier, outside the bar, they just want to walk hand in hand or have dinner together.
Last week I realized that what I earn as a rentboy is almost the same as what the Hôtel Petit Palais pays me. If I agree to meetings outside the bar, I can even double my salary. Maybe some rich lady takes a liking to my company and adopts me as a petoboifurendo. I never imagined being a pet, but here in Japan everything is so different that I'm even considering it. But deep down, it's just a new facet in my Hospitality career.
Sensacional! Que experiência!