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Um dos lugares mais magníficos do Brasil, quem sabe até do planeta, é o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, no Maranhão. É um mar de dunas de areia branca, entrecortadas por lagoas de água cristalina, quase sem fim. Fui com a família e ficamos em Santo Amaro do Maranhão, um povoado às margens do parque, entre São Luís e Barreirinhas. Tudo é muito organizado. Só picapes com guias locais podem entrar no parque. Há rotas predeterminadas por bandeirolas vermelhas que só eles conhecem. São tantas lagoas que dificilmente você verá outras pessoas (a não ser que esse seja o seu desejo). Achei mais fácil visitar a partir dali do que de Atins, que visitei há alguns anos. Atins é interessante pois fica na beira do mar, só que, para chegar lá, é preciso navegar uns 40 minutos de barco a motor pelo caudaloso Rio Preguiças.
Recomendo a Oiá Casa Lençóis, que organiza tudo, do transfer de São Luís aos passeios. Servem uma caipirinha com cajus de lá mesmo, e as refeições são servidas ao ar livre, debaixo de árvores frondosas. Hippie chic no último!
Como gosto de contrastes, saltei das dunas maranhenses para uma das cidades mais planas da América do Sul: Buenos Aires. Fui para visitar grandes amigos, caminhar pelas avenidas e comer. Amo comer na Argentina. O mais legal é que, apesar de já ter ido muitas vezes para lá, sempre há coisas diferentes para conhecer. Desta vez fui ao Museu Quinquela Martín e ao Colón Fábrica (onde os cenários e as roupas das óperas são armazenados), ambos na Boca, pertinho do hiperturístico Caminito e da Fundación Proa, que agora tem um anexo para arte experimental, o Proa21. Até a Bombonera, o estádiodo Boca Juniors eu vi! Aproveitei para compilar meu primeiro guia aqui no Substack: TravelVince em Buenos Aires, dicas rápidas para experiências incríveis.
Entre idas e vindas, sinto minha bússola interna bastante embaralhada. Dou voltas, giro em círculos atrás de um norte. Paro, respiro, faço planos e, num piscar de olhos, já virou o mês, o ano, e sigo num descompasso meio esquizofrênico. Adoraria ser um avestruz para enfiar a cabeça num buraco, mas me sinto girafa. Vejo de longe o que está por vir. Então planejo: uma fuga, um novo negócio, uma mudança radical no meu estilo de vida. No fundo, devo ser mesmo um bicho-preguiça, com um cérebro cada vez menos confiável e uma lentidão em chegar ao próximo galho.
Cérebro menos confiável é o que mais me assusta. Uma das pessoas mais importantes da minha vida está apagando como uma vela. Vejo o que é dar voltas atrás de uma tesoura perdida, uma chave esquecida. Ao invés de chorar a dor, engaveto o sentimento, que deve estar atacando meus neurônios (e coração) mais do que as taças de vinho que parei de beber ou a maconha que nunca fumei. Mas, como dizia Clarice Lispector: “C'est la vie” (ressalva para a ironia de atribuir toda e qualquer citação à Clarice).
Embarco numa viagem diferente em outubro, que talvez me ajude a calibrar a bússola interna. Torço para encontrar razões para colocar a tristeza para fora. Precisarei contar com a bondade de estranhos. O bom é que vai ter assunto para a próxima newsletter (como se falta de assunto fosse algum problema para mim). Obrigado mais uma vez por me ler.
🇬🇧 One of the most magnificent places in Brazil, perhaps even in the world, is the Lençóis Maranhenses National Park, in Maranhão. It’s a sea of white sand dunes interspersed with crystal-clear lagoons, almost endless. I went with my family, and we stayed in Santo Amaro do Maranhão, a small village on the edge of the park, between São Luís and Barreirinhas. Everything is very well organized. Only pickup trucks with local guides can enter the park. There are pre-determined routes marked by red flags that only they know. There are so many lagoons that you’ll hardly see anyone else (unless that’s what you want). I found it easier to visit from there than from Atins, which I visited a few years ago. Atins is interesting because it’s by the sea, but to get there, you need to navigate about 40 minutes by motorboat along the mighty Rio Preguiças.
I recommend staying at Oiá, which organizes everything, from the transfer from São Luís to the tours. They serve a caipirinha with cashews fruit from their garden, and meals are served outdoors under leafy trees. Hippie chic at its finest!
Since I love contrasts, I jumped from the dunes to one of the flattest cities in South America: Buenos Aires. I went to visit great friends, walk along the avenues, and eat. I love eating in Argentina. What’s amazing is that even though I’ve been there many times, there are always new things to discover. This time, I visited the Quinquela Martín Museum and the Colón Fábrica (where the opera sets and costumes are stored), both in La Boca, close to the highly touristic Caminito and the Fundación Proa, which now has an annex for experimental art, Proa21. I even caught a glimpse of La Bombonera, the Boca Juniors stadium! I took the opportunity to compile my first new guide here on Substack: TravelVince in Buenos Aires, quick tips for delightful experiences.
In the midst of all these comings and goings, I feel my internal compass slightly scrambled. I turn in circles, chasing a north. I stop, breathe, make plans, and in the blink of an eye, the month has passed, the year has passed, and I keep moving in a somewhat schizophrenic rhythm. I wish I were an ostrich so I could bury my head in a hole, but instead, I feel like a giraffe. I see what’s coming from afar. So I plan: an escape, a new business, a radical change in my lifestyle. Deep down, I must really be a sloth, with a brain that’s becoming less reliable and a slowness to reach the next branch.
A less reliable brain is what scares me the most. One of the most important person in my life is fading away like a candle. I see what it means to wander around looking for a lost pair of scissors, a forgotten key. Instead of crying over the pain, I shelve the feeling, which is probably attacking my neurons (and my heart) more than the wine I stopped drinking or the weed I never smoked. But, as the writer Clarice Lispector once said: "C'est la vie" (with a side note on the irony of Brazilians attributing any and every quote to Lispector).
In October, I’m embarking on a different kind of journey, which might help recalibrate my inner compass. I hope to find reasons to let the sadness out. I’ll need to rely on the kindness of strangers. The good thing is there will be plenty to talk about in the next newsletter (as if lack of content has ever been an issue for me). Thank you once again for reading.
Sempre uma baita leitura.
Confia e tudo vai seguir bem!
Sempre impressionante! Não tem como não embarcar na viagem, de coração também.