Na praia

Uma praia sob um céu violeta. Nem lusco, nem fusco. Sentado na areia em frente ao mar, sentiu a brisa eriçar delicadamente os pelos do braço. Pensou ser um leve sopro de Éolo dando-lhe as boas vindas. Viu uma luz descendo o morro através da estradinha em ziguezague. Deviam ser seus amigos retornando do passeio às ruínas. Ainda levaria um tempo para chegarem à pousada em meio às oliveiras e aos pés de alecrim. Escolheu passar o dia sozinho, bebendo sol e devorando palavras. Levantava os olhos vez ou outra para observar Apólos saindo da água e Ariadnes jogando frescobol. Como será que os gregos chamavam frescobol?

Agora que o sol já havia mergulhado no horizonte a praia era só sua, aproveitou uma réstia de luz natural para o último mergulho. Entrou devagar na água calma, que refletia as nuvens. Sentiu o cheiro do protetor solar que se dissolvia no iodo. Fechou os olhos para prestar atenção na sensação do molhado e gelado subindo pelas pernas queimadas de sol. O silêncio era tamanho que poderia escutar as sereias da Odisseia. Mergulhou por completo entre as medusas e caravelas como se flutuasse no espaço. Deu um grito de alegria dentro da água que se misturou com as bolhas de oxigênio que saíram de sua boca rumo à superfície.

Depois de banho quente, vestiu uma camisa de linho e a bermuda de sempre para o jantar. Caminhou descalço com os amigos pela trilha de dez minutos até a taverna Manoli. Contaram para ele sobre as ruínas do anfiteatro e do guia chato que não largava deles. Sentaram-se na mesa cativa, aquela debaixo da grande árvore, quase encostada na água. Os donos viviam ali desde a Ilíada, brincavam. Era Spyros e os filhos que pescavam os frutos do mar e Helena, a esposa, que preparava o queijo e que colhia as berinjelas, pimentões e tomates do próprio jardim. A comida tinha gosto de raios de sol fotossintetizados. Tudo explodia na boca, misturado ao vinho de uvas mitológicas. Ele e os amigos riam de tudo e de nada ao brindarem “yassas” junto com os filhos de Spyros, que de dia pescavam e de noite serviam as mesas.

No caminho de volta para a pousada, em comunhão etílica com Dionísio, se perderam pela trilha. Escutaram murmúrios, tropeçaram em cabras e viram luzes piscando. Um deles falou que se continuassem caminhando para o alto, chegariam ao Olimpo. Ele começou a declamar palavras de origem grega. Todos entraram no jogo e entre hipopótamos, estreptococos, filosofias e decálogos, encontraram finalmente a pousada. Ébrios de felicidade, sentaram-se na varanda para ver as estrelas e fazer a digestão. Foi nesse mesmo instante que um brilho de luz saído de Andrômeda no último dia da batalha de Troia terminou sua viagem pelo espaço sideral nos olhos daqueles rapazes que olhavam para o céu.

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